no divã
comecei a fazer terapia recentemente e, apesar de ser extremamente interessante caminhar pelos recantos escuros da minha mente, ouvir o que as vozes dizem por lá tem um quê de assustador. não deixo de me surpreender toda vez que percebo o quão mal curadas estão minhas feridas antigas. será que é assim sempre, com todos? será que lutamos em vão contra a natureza caótica do que somos e, infelizmente, sempre seremos?
a dor é uma bagunça. a alegria também. tenho tentado as diferenciar pelos nuances. contudo, sempre há a dúvida. estou feliz, ou finjo? estou seguindo, ou me empurrando indefinidamente à frente?
meu namorado me disse que mais importante que perscrutar velhas feridas, é fecha-las. achei bonito, até. mas ainda não descobri como fechar traumas de estimação. daddy issues estão aí pra virar piada de bar e gerar entretenimento. mas se eu deixá-los pra trás? e se acabar a dor? talvez eu seja só um conjunto do que deu errado.
gastei anos demais esperando que meus problemas passassem. eles ainda estão aqui, comigo. de vez em quando, aparecem. agora mais frequentemente que nunca, já que busco por eles toda quinta-feira às 17 horas. e estou escrevendo por isso. viver na minha cabeça tem sido insuportável. péssimas companhias.
nosso medo de abandono pode ser acolhido como uma necessidade constante de estarmos com nós mesmos. fica melhor assim, né? porque no final, não são os outros que nos deixam. somos nós quem vamos embora.
e, na maioria das vezes, não queremos ir.